Tratamento e equilibrio do microbioma intestinal no tratamento de transtornos psíquicos.
Microbioma intestinal e demência: novas evidências
By Pauline Anderson
A depleção de determinadas bactérias intestinais e a maior quantidade de outras estão associadas a aumento do risco de demência, mostra novo estudo.
“Embora o nosso estudo tenha muitas limitações, seus resultados sugerem que o microbioma intestinal possa ser um novo alvo para o tratamento da demência”, disse ao Medscape o Dr. Naoki Saji, médico e vice-diretor do Center for Comprehensive Care and Research on Memory Disorders, National Center for Geriatrics and Gerontology, no Japão.
Os médicos devem incentivar seus pacientes a “cuidar dos próprios intestinos”, disse o Dr. Naoki.
O estudo foi apresentado no International Stroke Conference (ISC) 2019 e publicado on-line em 30 de janeiro no periódico Scientific Reports.
O microbioma intestinal é formado pelos microrganismos que vivem no trato digestório; existem cerca de mil espécies diferentes de bactérias, chegando a trilhões de células. Pesquisas recentes correlacionaram determinadas alterações entre as bactérias intestinais e as doenças inflamatórias e autoimunes, e estudos mostraram que modificações alimentares podem alterar as populações de bactérias intestinais.
Microbioma intestinal tornou-se o tema do momento para muitos especialistas, inclusive para o Dr. Naoki. Seus interesses de pesquisa são as associações entre a demência, as doenças cerebrovasculares e as doenças cardiovasculares. O pesquisador defende a hipótese de essas doenças terem os mesmos fatores de risco.
Resultados de pesquisas anteriores sugerem uma relação entre o microbioma intestinal e as doenças cardiovasculares. “Imaginei que também pudesse existir alguma relação entre a demência e o microbioma intestinal”, disse o Dr. Naoki.
O novo estudo recrutou 128 pacientes ambulatoriais de uma clínica de memória da sua instituição; os participantes tinham em média 74,2 anos de idade, e 59% eram do sexo feminino.
Os pesquisadores coletaram dados demográficos, informações sobre fatores de risco e atividades da vida diária, e avaliaram a função cognitiva usando testes neuropsicológicos e exames de ressonância magnética (RM) de crânio.
Além disso, com amostras fecais, os autores determinaram a microbiota intestinal usando a análise de polimorfismos do comprimento dos fragmentos de restrição terminal (T-RFLP, do inglês Terminal Restriction Fragment Length Polymorphism). Trata-se de um método comprovado e confiável de classificação da microbiota intestinal, segundo o Dr. Naoki.
Os pesquisadores dividiram os participantes do estudo em grupos com e sem demência. Por meio de modelos de regressão logística multivariada identificaram os fatores independentemente associados à demência.
Os autores informaram que infartos lacunares silenciosos e microssangramentos cerebrais foram observados com mais frequência nos exames de ressonância magnética dos pacientes com demência.
Diminuição da população de Bacteroides
A análise dos T-RFLP revelou diferenças dos componentes da microbiota intestinal entre os grupos. Por exemplo, os níveis de Bacteroides (enterotipo I), que são os organismos que normalmente vivem nos intestinos e podem ser benéficos, estavam diminuídos nos pacientes com demência em comparação aos pacientes sem demência.
Havia outras bactérias (enterotipo III) em maior quantidade no grupo com demência.
Análises multivariadas mostraram que o enterotipo I (razão de risco ou odds ratio, OR = 0,1; intervalo de confiança, IC, de 95%, de 0,02 a 0,4; P < 0,001) e o enterotipo III (OR =12, IC 95%, de 3,3 a 65,8; P < 0,001) foram fortemente associados à demência, independentemente de biomarcadores tradicionais de demência, como a existência do alelo APOE ε4; de déficits de alguns neuroquímicos; e das altas pontuações no Sistema de Análise Regional Específica por Voxel para Doença de Alzheimer (VSRAD, sigla em inglês Voxel-Based Specific Regional Analysis System for Alzheimer’s Disease).
As concentrações fecais de amônia, indol, escatol e fenol foram mais altas nos pacientes com demência em comparação com os pacientes sem demência.
Fonte:
https://portugues.medscape.com